Serra das Águas

Serra das Águas é um espaço destinado a publicações sobre municípios das Terras Altas da Mantiqueira. O objetivo é mostrar seus históricos, suas belezas e os acontecimentos que os envolvem, promovendo integração, incentivando o Turismo e a preservação do meio ambiente

“Artesanato e turismo são duas coisas agregadas”, defende a professora Roseli Querino

Publicado dia 14 de Maio de 2022 às 19:46 por Rafaela Carvalho
Modificado dia 14 de Maio de 2022 às 19:46
Pouso-altense professora de História e ligada à arte, à cultura e ao turismo também é membro dos conselhos municipais de Turismo e do Patrimônio Cultural de Pouso Alto e concedeu entrevista ao Serra das Águas O artesanato, o turismo e a história de Pouso Alto fazem parte da vida de Roseli Querino. A professora de História, que também integra os conselhos municipais de Turismo e do Patrimônio Cultural de Pouso Alto, sua cidade natal, também é conhecida pelo artesanato com o ponto cruz. Roseli borda, faz doces, toca violão e canta. E essa diversidade de trabalhos artesanais é também o que ela defende para o turismo e a cultura de Pouso Alto. Em entrevista ao Serra das Águas, em live disponível no Instagram (veja a transmissão completa no fim do texto), ela falou sobre como a junção entre artesanato, história, religião e cultura popular pode contribuir para trazer turistas para a região das Terras Altas da Mantiqueira. Também atuando como artesã, Roseli abriu uma loja de artesanato em Pouso Alto recentemente e participa da Feira Livre de Agricultura Familiar da cidade com seus bordados. Participando desde a primeira edição, ela defende que mais artesãos sejam chamados para participar da cena do artesanato em Pouso Alto, indo além das feiras. “Acho que falta uma associação de artesãos em Pouso Alto. Isso a gente já vem tentando há muito tempo. O artesão não pode vender seus produtos todos os dias, porque ele tem que ter tempo para produzir. Então essa venda teria que ser em um espaço coletivo”. Ela conta que a feira começou com uma participação tímida por parte dos artesãos e da população, que ainda está se habituando a visitar o evento para prestigiar os trabalhos feitos por pessoas do município. Mas, para ela, isso acontece porque também falta incentivo com relação ao turismo. “A população já está se acostumando com a exposição dos produtos, que acontece na beira da BR-354, porque ainda não temos o turismo presente na cidade, apesar de pousadas existirem na Zona rural e no município. Por enquanto ainda estamos na BR, por conta de a cidade não ter um fluxo de turistas, mas o artesanato e o turismo são duas coisas agregadas”. Uma das ideias que Roseli defende para que os dois setores sejam, de fato, interligados em Pouso Alto, é a capacitação dos próprios artesãos para que atuem em um centro de informações turísticas, que poderia funcionar em conjunto com uma casa do artesão, por exemplo. Neste local, os turistas poderiam ver os produtos produzidos no município, se inteirar dos pontos turísticos e conhecer a história de Pouso Alto. “ Criar um centro de informação para o turista é para ontem. Acho que deveria ser na beira da rodovia, porque Pouso Alto é conhecido pela rodovia. Tem gente que acha que a cidade é só aquela faixa, por exemplo. É por ali que o turista chega, então ele vai conhecer Pouso Alto de fora para dentro. Poderíamos unir o útil ao agradável, e nesse local poderíamos ter fotos das cachoeiras, do Morro do Rachado, das igrejas...” *Turismo histórico, gastronômico e religioso* Professora de História, Roseli Querino conhece muito sobre a história e os personagens que ajudaram a formar a cidade. “Essa capacitação que eu proponho poderia ensinar as pessoas a falarem também da história de Pouso Alto, que é muito interessante. É uma das cidades mais antigas depois de Baependi, e vem do ciclo do ouro, foi fundada por bandeirantes, é uma cidade de barões. Temos por exemplo a história da Rita Pereira, que era filha do Miguel Pereira, produtor de fumo que era dono de todos os municípios ao redor de Pouso Alto. Rita se casou com o Francisco Teodoro da Silva, exportador de café que veio de São João Del Rei, que conheceu a Rita. Os dois eram considerados nobres. Pouso Alto também tem uma história ligada à ferrovia Dom Pedro II. O mineiro gosta de contar história, e nós pouso-altenses também gostamos. Cada família tem um contador de ‘causos’, e o turista gosta de histórias, o que atrai o turista é um bom papo, ele quer saber as raízes, quem viveu aqui”. Outra história interessante é sobre a casa da professora aposentada Amália Nogueira, localizada na Av. Haroldo Russano, quase em frente à antiga Biblioteca Municipal. Neste imóvel morou o escritor Ribeiro Couto. Roseli conta que antes de ser escritor, ele era promotor de justiça, e buscou Pouso Alto por causa do clima favorável para tratar a tuberculose. “Ele e a esposa, que era de Santa Rita do Sapucaí, vieram se tratar aqui. Ele era uma pessoa muito alegre, festiva, conhecia todo mundo. Ele escreveu o livro Cabocla, que tem muitos personagens baseados em moradores de Pouso Alto, inclusive o amigo pessoal dele, o advogado Macário Dias. Nesse personagem, ele colocou o nome de capitão Macário. A Zuca, por exemplo, é uma personagem de Pouso Alto. A novela Cabocla é baseada no livro dele, e se passa na estação de Pouso Alto.” Além de Ribeiro Couto, Manoel Bandeira, que era amigo do escritor, também passou por Pouso Alto para se tratar, e fez para a cidade o poema Ninho de Águia. “A águia é um animal livre e protege, mesmo que as pessoas vão embora. Pouso Alto era, para ele, uma cidade que protegia aqueles que estavam chegando, uma cidade hospitaleira. Isso faz parte da nossa história”. Para além do turismo histórico, por meio também do Casarão localizado na sede do município, que tem três andares, inclusive como uma senzala embaixo, algo considerado uma raridade, a professora de História acredita que também é possível investir no turismo religioso. “Além do Solar dos Barões, temos igrejinhas antigas, como a Igreja Nossa Senhora da Glória, onde tem uma água considerada milagrosa que voltou a brotar. Temos a igreja de Santo Antônio, temos os santos barrocos na Matriz de Nossa Senhora da Conceição, que são santos de roca, que mexem com a cabeça e mão. A igreja do distrito de Santana do Capivari também é preservada e tem dois altares. Pelo fato de estarmos próximos ao Santuário de Nhá Chica, é possível explorar essa área, com o turista pernoitando em Pouso Alto e indo para o Santuário depois, por exemplo”. De acordo com Roseli, outra coisa que atrai turistas é a gastronomia. E Pouso Alto também tem como investir neste setor. “Temos em Pouso Alto doces de goiabada, doce de leite, pêssego, quitandas, a linguiça, que é bem famosa... Tem a leitoa, o tutu, a fricazella, que é tombada pelo patrimônio histórico. Precisamos voltar a colocar esses produtos para venda nos principais mercados, principalmente na BR-354. Acho que é preciso ter uma propaganda, assim como o queijo precisa. Muitas vezes, são receitas e negócios familiares, que têm histórias interessantes. A propaganda é a alma do negócio, então se você não contar a história, não mostrar para a pessoa a importância desses produtos que têm anos e anos de produção, o turista não vai compreender por que aquele produto é diferente”. Roseli finalizou a conversa destacando que integrar turismo, artesanato e outros setores, como o religioso, é essencial para atrair os turistas e incentivar o crescimento da cidade e da região. Assista a live do Serra das Águas com Roseli Querino aqui: instagram[https://www.instagram.com/p/CdcBLxlF3do]
Rafaela Carvalho Rafaela Carvalho é jornalista e coordenadora de redes sociais do site Serra das Águas. Atua como editora de veículos de comunicação online
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